uma pequena história, para iniciar a semana da leitura
Já não havia batatas na despensa, e
o contramestre mandou-me buscar uma saca ao porão. Quando desci, deparei com
dezenas de sacas, amontoadas umas em cima das outras, ao lado de botijas,
barris, baús. Mas quais delas eram as que tinham batatas? Abri uma e logo
desabou uma caterva de livros.
Livros? Uma expedição marítima levava livros? Bem, talvez fosse um capricho do
capitão – embora eu nunca o visse ler, o que também não era de estranhar, pois
a maior parte do tempo ele ficava encafuado no seu camarote. E quando o via,
trazia na mão um mapa enrolado numa chibata. Por curiosidade fui ver outras
sacas. Não podia abrir todas, mas dei-me ao trabalho de apalpar umas cinco ou
seis: todas pareciam estar cheira de
livros, a menos que as batatas tivessem deixado de ser redondas! Achei muito
estranho e fui tateando até encontrar por fim
a saca continente do conteúdo que me tinham mandado buscar.
Quando tive oportunidade, perguntei
a Keequog:
-Sabias que o porão está cheio de
livros?
Keequog continuou a trabalhar. O
que queria dizer que, sim, já sabia.
-Para que são aqueles livros
todos?, Insisti
Keequog olhou para um lado e logo
para o outro.
-São para atrair o Anibaleitor,
murmurou entredentes …mas tu não ouviste isto de mim.
-O quê?
-Um animal tão fantástico quão
feroz. E, se Deus quiser, vamos ser os primeiros a continuar vivos depois de o
ter visto.
Rui
Zink, O Anibaleitor