Que me trazem
as palavras do mundo?
Signos e
significados,
significantes
e referentes
e a surpresa
de que haja crentes
em pensamentos
tão variados.
Que me trazem
as palavras do teu mundo?
Verdades por
vezes tão estranhas,
que dizes serem
legítimas opiniões pessoais
tão verdadeiras
quanto as demais,
ainda que aos
outros pareçam patranhas.
Que me trazem
as palavras daquele mundo?
Ideias que reputo
como falsidades,
mas que outros
afirmam ser banais
noutras
culturas e sociedades,
ainda que em
nada nos sejam iguais
e nos custe
chamá-las «verdades».
Que me trazem
as Palavras do Outro Mundo?
Mandamentos
universais
contra os
pecados mortais,
ensinamentos
divinos
para orientar
os cretinos,
sagrados
códigos morais
para
ensinarmos aos meninos.
E aos demais.
Mas que farei,
afinal, às palavras do mundo?
Que verdade
trazem elas, no fundo?
Que palavra
será a mais verdadeira?
Que verdade
será a mais certeira?
A do apóstolo,
a do profeta, a de que deus?
A de Einstein,
a de Newton, a de Ptolomeu?
A minha, a tua,
a deles?
A do
cientista, a do poeta ou a de um reles
homem como eu?
Diz-me:
por que régua,
por que balança,
por que
termómetro ou geringonça,
por que
relógio, por que contador,
por que
manómetro ou transferidor,
por que
astrolábio, por que sextante,
por que perspetiva
ou quadrante
medirei
- diz-me tu,
que eu não sei -
as verdades de
cada um
trazidas pelas
palavras do mundo?
Diz-me tu, que
eu não sei
que regra social,
que lei natural,
que tradição
oral, que diploma legal,
que costume, que
hábito, que norma,
que equação chamar
ou de que forma
condenar
a faca que
corta outra garganta humana,
a corrente que
garante uma escravidão insana,
a biqueira que
maltrata uma criança,
a pistola que
calou vozes em França,
o assassino
que mata com indiferença serena,
o doente que
sofre sem que alguém tenha pena,
o proxeneta
que explora mais de uma dezena,
o sangue de um
touro que morre na arena,
o político mentiroso,
o funcionário corrupto,
o lambe-botas
dengoso, o polícia bruto,
o vizinho
manhoso, o vigarista astuto,
o chefe que
manda com a arrogância de um puto,
o fanatismo de
estádio (ou político, ou religioso),
o respeitinho
que sempre foi brando costume,
o racismo que
faz este mundo mais perigoso,
o homem que
mata por não aplacar o ciúme.
Todos estes
pecados e muitos mais,
que não são
apenas sete
e nem todos
mortais.
Diz-me tu, que
eu não sei,
de que forma
escutarei
todas as
palavras e cada uma
para então, se
houver alguma,
encontrar a
verdade que será Lei.
Diz-me tu, que
eu não sei.
11.03.2015
A.C.
Obrigado António... que bela forma de comemorarmos este dia!