sábado, 10 de maio de 2014

Um poema escrito a lápis


Guardo uma vontade que me consome,
de sair daqui. Deste preciso lugar.
Onde me encontro sem saber onde estou,

lugar este, irreconhecível
que já não me pede por rima,
que já não ilustra o que anseio por ver,
que já não me faz querer ficar.

Escondi a minha história, tão fundo aqui
para que ninguém a pudesse encontrar…
nem mesmo eu nem mesmo este lugar.

Olho em volta, procurando por um sinal:
que me mostre que fui feliz,
sem o gesto de sorrir;
que amei intensamente,
sem saber o que é amor;
que mostrasse daquilo que sou feita,
mesmo sem saber quem sou;

Encontrei memórias manchadas
com o presente, já velho,
que este lugar se tornou!
Memórias essas,
Que são como versos num poema escrito a lápis…
podem ser apagadas.


Patrícia Cabecinha  - 11º D 

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Sou

Sou noite sem fim
ou claro dia a despontar.

Sou simplesmente assim,
uma folha a divagar.

Sou medo e coragem,
liberdade e prisão.
Sou simplesmente assim,
uma flor em botão.

Sou pássaro livre,
cativo da saudade.
Assim simplesmente sou,
sorriso que não aflorou.

Sou vida e morte,
vento que corre forte.
Assim simplesmente sou,
história que não acabou.

Sou arte e ciência,
impaciente paciência.
Assim serei simplesmente,
verdade e mentira que não mente.

Que morra em vida
no dia em que assim não for.
Que viva em morte
se assim simplesmente for.



Filipa Abreu -12º A 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Água, rua e vento


Água, rua e vento
E pedras no coração.


À semelhança de todos, sou eu.
Único e ímpar, na minha pluralidade.
A cada inspiração, letras e linhas curvas.
Ondas e nuvens e mãos frias de inverno.
Tudo é matematicamente horrível,
À excepção de mim, de ti e de nós.
E os traços que me saem da mão,
São partes de mim que perco pelo caminho,
São matematicamente belos.
Sem raízes, mas com folhas verdes.
Gosto de passear na rua à tarde e passar pelo Mosteiro dos Jerónimos.
É belo e grandioso.
Hoje reparei que faltam lá pedras…
Essas que manténs reféns no teu peito.
E se de repente um pássaro voar por cima da minha cabeça,
Sorrio para ele, abro as asas e sigo-o.
Os bancos estão aquecidos pelo sol, não pelas pessoas que lá não se sentam.
E se fechar os olhos, cheira-me a Tejo e a rio, a cidade e a Lisboa…
Cheira-me a música e a ti.
E já perdido na agonia da alegria e da lembrança que me trazes,
Caminho sozinho na sombra dos pensamentos das árvores do passeio,
A pisar as pedras da calçada. Essas pedras que me têm pisado a mim a vida toda.
Essas que tens tirado do teu peito para atirar ao meu.
Não me tivesses tu atirado, não tinha nada para guardar
No lugar onde Deus me pôs o coração.
Esse mesmo lugar, de onde tu mo tiraste e meteste as pedras que roubaste ao longo da vida


Carlos Victor – 11ºB


quarta-feira, 7 de maio de 2014

A tua voz fez-se ouvir



A tua voz fez-se ouvir
Com um brilho de esperança
Nos teus olhos.
Amavas a terra que te tinha trazido à vida.
Ela prendia-te em si mesma
Com a melodia das searas douradas ao vento
O rugido do rio ao lado da tua casa de adobe
As tardes quentes de verão com sabor a manga e juventude.
A liberdade daquela terra prendia-te a ela
E recusavas pertencer aos muros da opressão
E da gente que não consegue despertar do medo.
Mal sabias tu que quando esses muros caíssem
E o medo se esvaísse em cravos vermelhos
Outras forças roubariam a tua liberdade.
A melodia das searas deu lugar ao som das balas
O rugido do rio calou-se abafado pelas minas
As tardes quentes de verão sabiam a desespero e agonia.
Aprendeste a não recear a espingarda
Mas sim aquele que mandou seu irmão dispará-la.
Tiveste de fugir à dor e deixar tudo para trás.
Embarcaste num futuro incerto
Fechaste-te nos teus próprios muros de exílio
E aceitaste a recusa de sonhar.
Viveste tudo isto e ainda a juventude te corria nas veias!
Agora pergunto-te, meu rapaz
Valeu a pena lutar por aquilo
Que muitas almas pensam que não te pertence?
Sim, valeu a pena.
Pois ainda se vê o brilho dourado das searas
Nos teus olhos de esperança.
E a tua voz faz-se ouvir no rugido do rio
Nas tardes quentes de verão
Da terra que te trouxe à vida.

Leonor Arrimar -  9º A 



terça-feira, 6 de maio de 2014

Alunos premiados...

Foram premiados os seguintes alunos:


Poemas e os poetas premiados
3º ciclo
Leonor Arrimar -  9º A

Secundário

1º prémio - Carlos Victor - 11ºB
2º prémio- Filipa Abreu -12ºA
3º prémio - Patrícia Cabecinha - 11ºD


 O resultado e os poemas estão afixados na Biblioteca!

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Concurso de Poesia

Sem tema obrigatório, o Concurso de Poesia, integrado na Semana de Leitura da Escola Secundária do Monte de Caparica, envolveu os alunos dos ensinos básico, do secundário e dos cursos EFA.


domingo, 4 de maio de 2014

Maio de Minha Mãe

O primeiro de Maio de minha Mãe
Não era social, mas de favas e giestas.
Uma cadeira de pau, flor dos dedos do Avô
— Polimento, esquadria, engrade, olhá-la ao longe —
Dava assento a Florália, o meu primeiro amor.

Já não se usa poesia descritiva,
Mas como hei-de falar da Maromba de Maio
Ou, se era macho, do litro de vinho na sua mão?
O primeiro de Maio nas Ilhas, morno como uma rosa,
Algodoado de cúmulos, lento no mar e rapioqueiro
Como Baco em Camões,
Límpido de azeviche
E, afinal de contas, do ponto de vista proletário,
Mais de mãos na algibeira do que Lenine em Zurich.
(Porque foi por esta época: eu é que não sabia!)

A minha Maromba tinha barriga de palha como as massas
E a foice roçadoira da erva das cabras do Ribeiro
Que se pegou, esquecida, no banco do martelo de meu Avô
Cujas quedas iguais, gravíficas, profundas

Muito prego em cunhal deixaram,
Muita madeira emalhetaram,
Muita estrela atraíram ao bico da foice do Ribeiro
Nas noites de luar em que roçava erva às cabras.
Favas de Maio do meu tempo!
Havia poder popular
Nas mãos de minha mãe, que as descascava como flores
E flores eram de si, na flórea abada
Como se já guardassem flor de laranjeira e açaflor
Nas suas intenções de Maio 1918, para as depor
(Nem pensada sequer) na fronte à minha amada.


Vitorino Nemésio, in 'Antologia Poética'



quinta-feira, 1 de maio de 2014

A esperança não se perde...

Aos mortos-vivos do Tarrafal
Ao cabo de Cabo Verde
dobrado o cabo da guerra
quando o mar sabia a sede
e o sangue cheirava a terra
acabou por ser mais forte
a esperança perseguida
porque aconteceu a morte
sem que se acabasse a vida.

Ao cabo de Cabo Verde
no campo do Tarrafal
é que o futuro se ergue
verde-rubro Portugal
é que o passado se perde
na tumba colonial.
Ao cabo de Cabo Verde —
não morreu o ideal.

Entre o chicote e a malária
entre a fome e as bilioses
os mártires da classe operária
recuperam suas vozes.
E vêm dizer aqui
do cabo de Cabo Verde
que não morreram ali
porque a esperança não se perde.


José Carlos Ary dos Santos